O restaurante self-service estava lotado. Alguns clientes enchiam o seu prato enquanto outros procuravam um escasso lugar disponível.
Paulo avistou de longe uma única cadeira. Sentiu-se aliviado e logo correu em sua direção, sentando-se.
O pobre mal conseguiu dar uma garfada e escutou uma frase vinda de seu companheiro de mesa: Luís.
- Você é viado!
– Eu, viado?! Ficou maluco? – Paulo ficou atônito.
– Para de me olhar, viado! – berrou Luís.
– Porra estou olhando só porque você está me xingando!
– Para de história rapaz! Por que você veio sentar logo na minha frente? – indagou Luís batendo forte com as mãos na mesa.
– Será que o senhor não percebeu que não há mais nenhum lugar vago?! – falou em um tom ponderado. E quer saber, acho que você que é viado! – disparou.
– Eu?! Viado?! Sou macho, meu amigo.
– Ah eh? Pra mim isso é tática de viado! – ele esboçou um sorriso irônico.
– Como assim? – perguntou Luís balançando a cabeça para o lado.
– Como assim?! Chamar o outro de viado só pra sacar qual é a dele! – explicou quase que gritando.
– Você ficou maluco! Sou casado! – falou Luís mostrando uma aliança de ouro no dedo esquerdo.
– E viado não casa?
– Tenho dois filhos!
– E viado não tem filho?! Ainda por cima é enrustido! Meu santo deus!
Paulo se pôs de pé e subiu na cadeira do restaurante. – Gente! Atenção! – ele pediu com as duas mãos ao lado da boca.
Todos pararam imediatamente de comer voltando à atenção à mesa dos dois.
– O cara aqui quer fazer uma declaração!
– Ô seu porra, você ficou doido?! – Luís puxou Paulo pela blusa numa tentativa de fazer com que ele descesse da cadeira.
– Admite logo, meu camarada! Assume logo!
– Assumir o quê?! – gritou uma senhora sentada aos fundos.
– O cara é viado e quer assumir na frente de todos! – disparou Paulo começando a aplaudir Luís que – constrangido – não sabia onde enfiava a cara.
– Vamos aplaudir a coragem do cara, gente! – pedia Paulo conseguindo fazer com que os presentes fizessem coro com as mãos. – Isto sim que é HOMEM! – ele desceu da cadeira e bateu no ombro de Luís que não se fez de rogado.
O rapaz logo se colocou de pé, subiu na cadeira, e mostrou a aliança para todos.
– Tudo bem pessoal! Eu sou viado! Meu namorado… – ele falou apontando para Paulo. – Insistiu para que eu pedisse a mão dele em casamento na frente de todos e de forma bem atípica.
O povo – agora – aplaudia incansavelmente.
– Meu amor! Eu te amo!
Paulo, furioso, puxou a cadeira de Luís quase o levando ao chão. – Qual é cara?
– Não fica com vergonha, amor! Sobe aqui e me dá um beijo para selar nossa união!
– Parou a brincadeira! Desce daí!
– Ih olha! A bicha está com vergonha! Quer saber, eu vou é voltar a ser macho, como sempre fui. Os viados hoje em dia não são mais como antigamente!
Paulo pegou seu prato arrastou a cadeira para longe e caminhou rapidamente para o fundo do restaurante. Achou um lugar vazi, ao lado de um homem alto e de porte atlético sentando-se ao seu lado.
– É mole? – falou Paulo ao companheiro de mesa na tentativa de puxar assunto e se livrar do mal-estar.
– Relaxa boneca. – falou com o homem piscando seu olho esquerdo. – Isso sempre acontece comigo também. – completo, com uma voz tão fina como uma flauta. – Qual a sua graça?
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