sábado, 26 de março de 2011

CONTO: Maria de Vaca

Zé Maria passou a ser chamado de Maria de Vaca por um motivo que lhe fazia muita justiça: chegara a um ponto, de tanta miséria para gastar o que tinha, que dera de trocar seu carro por uma égua. Égua ou jumento; o autor é ignorante acerca de fazer tal distinção.

Tudo que ainda se recorda é que a mania de Maria de Vaca foi tomada por doença, reconhecida por um número de considerável de doutores. O mesmo só aceitou procurar um médico, em primeiro lugar, quando chegaram a fazer até mesmo “vaquinha” para pagar a condução até o consultório.

“Pedir um real a Maria de Vaca é como lhe pedir um pedaço do fígado; nunca vi sujeito igual!” cantava um desconhecido para a história, em uma banda da região.

“Ô Maria de Vaca, porque queres alguns poucos trocados para ir ao consultório com este bicho feio aí?”

Demorou, mas não tardou de aparecer uma resposta de Maria de Vaca, que agora passara também a economizar as palavras:

“ Veja, meu caríssimo, o burro” – esclareceu ao autor –“ não tem os melhores dentes. Com propriedade eu aceito quem isso diz. Mas ele cansa como todo animal. Precisa de água e um tiquinho de capim. Capim nasce na terra. Terra sem dono não há. Bebida potável muito menos. Preciso deixar o burro em boas condições”.

“E se o burro der de enguiçar Maria de Vaca. Vais fazer o que?”.

“Aí está o cerne da questão: enguiçando só preciso fazer uso do tempo pra esperar, sem buscar oficina ou comprar uma peça cara. Se morre, compro outro por uma mixaria. Enquanto estou satisfazendo minhas necessidades de homem, deixo o bichano no pasto, satisfazendo as dele. Se o mundo acabar, acendo uma vela, subo no burro, não passo por engarrafamento nenhum, tenho combustível sobrando e ainda hei de chegar ao lugar mais seguro antes de qualquer um de vocês. Viu?”.

Maria de Vaca então, movido pela idéia, deu-se a virar pastor da Igreja do Ultimo Burro. Segundo o mesmo, encontrara a solução para o fim dos tempos. Um burro, uma vela e uma máquina de escrever. Deu-se de contar burro de lá para cá, até que a cidade se livraria do carro, da poluição e guerra mais nenhuma houve: ninguém precisava do petróleo.

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