sábado, 30 de abril de 2011

Um Segredo Entre Nós

Durante anos, ao acordar toda a manhã, ele se deparava com ela; sempre sentada no mesmo sofá.

Os dois trocavam um tímido olhar, cercado de indiferença e desprezo.

Por mais que a relação os obrigasse a conviver quase que diariamente, os dois pareciam não se suportar.

Passaram-se anos. E a tina rotina de acordar e se desprezar desapareceu.

Ele não mais sabia como ela estava. Apenas sabia que havia crescido. Já se tornara uma moça, quase da sua altura.

O reencontro marcou um sentimento estranho ao coração do rapaz. A troca de olhares e o primeiro sorriso o fizeram achar que talvez sua intuição fizesse sentido.

Quem sabe o recíproco olhar estava apenas mascarado de indiferença. Ambos sentiam algo um pelo o outro. Fato que ele continuaria a negar, apesar de alguma coisa, vinda de dentro, queria eclodir para outro caminho.

No dia seguinte, chegada à noite, os dois saíram para dar uma caminhada. O rapaz não possuía intenção alguma. Nem mesmo aquela velha intenção de transgredir. De colocar à prova suas certezas, mesmo que elas custassem um preço alto demais para pagar. Ele não mais queria sofrer com o julgamento alheio. Não pelo fato de dar ouvido aos outros, e sim por ter coisas mais importantes para se preocupar.

E então, quando a noite dava lugar a madrugada, os dois se abraçaram e se entreolharam. Ele sabia compreender um olhar. Segundo o que sempre dizia: um olhar pode entregar os sentimentos mais ocultos.

E foi no mesmo olhar, que antes fora coberto de desprezo, que suas bocas se aproximaram. Um ato tão natural como a correnteza que despeja suas águas através dos rios.

E o beijo. Um beijo repleto de mistério e silêncio. Um beijo que ficaria para sempre marcado como um segredo; um segredo entre nós.

É certo que Nietzsche, sem dúvida, aplaudiria de pé. Convidariam todos os moralistas para apreciarem o que teceu nas entrelinhas do bem e do mal. Afastaria por completo a imoralidade. Mas o rapaz pensaria que pudesse esta ser sua maldição. Ou quem sabe, rendição. Render-se a capacidade de atrair justamente quem nunca deveria estar atraído.

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