segunda-feira, 16 de maio de 2011

Uma rua deserta, e você me desperta

Eles tinham combinado de se encontrar na esquina. De certo, Marcelo apressou seus passos, com medo de chegar atrasado ao primeiro encontro.

Conferindo seu relógio de pulso, teve a certeza de que ele chegara adiantado e por este motivo, ela ainda não havia aparecido.

A rua estava escura, mas não muito deserta. Um casal, de costas, sacava dinheiro de um caixa eletrônico bem à frente de Marcelo; enquanto ele pensava se poderia ser ela.

Mas ele não precisou conferir minuciosamente para descobrir que não se tratava de seu par. No mesmo instante, sentiu um misto de pensamentos. Seria aquele casal mais um a sair para jantar naquela noite? Seriam eles namorados de longa data? Amigos? Estariam se conhecendo, como Marcelo?

Perdido em meio a pensamentos sem muita importância, ela finalmente chegou. Deu o já conhecido sorriso curto e misterioso, abraçando-o com cautela.

Os dois então caminharam até um restaurante próximo. Fazia anos que Marcelo não andava a pé pelas ruas de sua cidade. Aquilo o fazia lembrar-se de seus tenros tempos de adolescente, quando tivera sua primeira namorada séria. Ele levava uma vida simples e muito mais feliz do que a atual. Discordava de filósofos que insistiam em dizer que os tempos juvenis não poderiam ser melhores que a velhice, sem senilidade. Tais pensadores partiam do pressuposto que a sabedoria poderia trazer mais felicidade, porém Marcelo pensava diferente. Quanto mais aprendia, mais cético se tornava no que dizia respeito ao ser humano.

Mas havia um estranho dualismo no encontro dos dois: pareciam velhos desconhecidos e ao mesmo tempo, pessoas que buscavam se conhecer.

O esforço era visivelmente mútuo. É claro que poderia acontecer o que sempre acontecera na vida de Marcelo: a falta de empatia. Para dizer melhor: a falta de uma sincronia de pensamentos.

Por ter idéias tão ímpares e distantes de seus pares, Marcelo sempre fora considerado louco. Abdução alienígena? Loucura. Mesmo com Stephen Hawking, o maior cientista vivo, dissesse que acreditava que “não estamos sós”, a idéia ainda era refutada por grande parte das pessoas. Talvez o mesmo tivesse ocorrido quando os primeiros desbravadores saíram da Europa, descobrindo que a Terra não era plana e que havia outros povos. Entretanto, agora não era hora para pensamentos tão volúveis e não empíricos.

Voltando ao encontro, e ao restaurante, eles trataram logo de ir à mesa de frios. Os dois não comeram muito. Ele colocou alguns sushi’s em seu prato, ao passo que ela limitou-se a comer uma comida convencional (para o ocidente).

Na mesa, ele pôde contar a respeito de seus livros. Da vontade de conseguir publicar um por um. E depois de discorrer por mais de dez minutos, sentiu certo egocentrismo de sua parte. Ele também tinha que escutar o que a outra parte tinha a dizer! Então, ela começou a contar sobre sua viagem aos Estados Unidos, sua experiência de vida, sua enorme vontade de encher uma mochila cheia de esperança e sumir pelo mundo. Sentimentos muito parecidos com os que Marcelo supria em seu coração. Todavia, com muito mais coragem.

Depois de quase uma hora sentados, ele tomou a iniciativa de irem embora. Não achava tal coisa educada, entretanto notara que se amontoava um número considerável de pessoas, à espera de uma mesa.

Os dois caminharam de volta ao lugar de origem e despediram-se com um tímido beijo. Um beijo que mais se assemelhava a dois amigos que supriam carinho um pelo outro. Ela, mais corajosa, se mostrava bem mais tímida. Já ele, divertia-se com uma situação juvenil que não acontecia há anos.

Depois, retornou caminhando até sua casa, observando cada detalhe da agora deserta rua. Tudo o lembrava algo. E as lembranças ainda o remetiam para um passado ainda mais distante. Era verdade. A felicidade se encontrava nas coisas mais simples. Ele lembrou-se mais uma vez de sua primeira namorada. De quando ela, sexta às cinco da tarde, entrava pela porta do quarto, com uma mochila repleta de roupas para passar o final de semana em sua companhia.

Lembrou-se do antigo cinema. Dos passeios de sábado. Das sessões de domingo. Mais uma vez ele se dava o direito de colocar a simplicidade adstrita ao coração. Mais uma vez, ele sorria com ternura. Sentia-se feliz por estar vivo. E não apenas por isso.

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