quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O Caminho da Espada

O céu estava nublado há 60 e poucos dias e todos na região já estavam inquietos. Sem a chuva, o solo não recebia vida. E sem o sol, força.

Desesperados todos começaram a se reunir em volta de uma grande fogueira e fazer rituais e rituais a todos os deuses sua cultura conhecia. Mas nada adiantou.

Notando que todos em sua casa a cada dia ficavam mais magros e pálidos, o rapaz não hesitou em consultar a velha cartomante. Ela foi direta: eu conheço um homem que pode fazer chover. E também pode fazer com que o sol apareça. Mas há um custo a ser pago.

O rapaz não pensou duas vezes, dizendo que aceitaria pagar. Pegou o mapa, voltou para casa, arrombou uma mesa mogno de madeira e tirou de lá um saco repleto de dinares.

Enfiou em meio ao casaco e saiu despercebido de casa.

O desconhecido trajeto não seria fácil como ele pensava.

Caiu em um buraco, rasgou as calças e o saco com as moedas. Juntou todas que viu e continuou sua jornada. Mais à frente, sentindo fome, parou em uma taberna e usou mais algumas moedas para se alimentar.

Ao sair, deparou-se com um velho moço que o pediu apenas um dinar. O rapaz, mesmo contrariado, achou que era seu dever ajudar.

E a odisséia continuou. O destino nunca chegava e ele se achou no direito de pegar estranhos atalhos. Em um foi roubado, restando-lhe poucas moedas. Depressivo, gastou o que tinha em vinho. E, embriagado, chegou ao encontro do homem que supostamente poderia controlar o tempo.

O homem, de idade avançada, trabalhava em uma espada que de longe brilhava. O rapaz o chamou, mas ele pouco deu atenção.

Sem saber o que fazer, ele ficou observando o homem trabalhar a espada. Não demorou muito para o mesmo fazer um sinal de ajuda com a mão.

Os dois esculpiram uma bela espada e ao término, o rapaz perguntou o obvio: eu preciso de sol e chuva em minha região. Todos estão morrendo. Ouvi dizer que és o único com tal poder.

O homem riu. – Quem falou tamanha bobagem?

- Uma cartomante.

- Foi para tirar-lhe o dinheiro! Seu tolo!

O rapaz não demonstrou vergonha. – Eu preciso de sol e chuva. E eu acredito que você tenha este poder. Faço-me tolo, então!

Em silêncio, o homem franziu a testa: Se eu tivesse, porque faria?

- Caridade. Bondade. Compaixão. Eu mesmo, antes de chegar aqui, ajudei um homem da sua idade. Mas a viagem foi tão longa que fiquei sem nenhum dinar.

- Não me importa o que você fez antes de chegar até aqui. Você não veio aprender a controlar o tempo? – perguntou o homem em tom debochado. – Mas e quando eu morrer, quem fará sol e chuva em sua região?

- Não sei. Quando isto acontecer, darei um jeito.

O homem então jogou a espada para o jovem, que a segurou. – Aprenda por si mesmo. Volte todo o trajeto com a espada e terás sol.

Em seguida jogou o escudo. – E com este escudo, chuva.

- E com os dois?

- Dias nublados.

Você pode controlar a sua jornada e até mesmo aprender a desviar dos buracos. Mas a alegria – sol – e a tristeza – chuva – irão depender da forma que você aprender a manejar suas armas. Entenda que a espada irá protegê-lo de uma iminente injustiça. Você nunca deverá usá-la por vontade ou por alguma razão imposta à mente. E o escudo, é a mais preciosa das armas. Defenda-se sempre que puder, mas sem atacar. Quem ataca, cansa. E quem cansa, perde.

Você não conhece a jornada do seu irmão. Evite julgá-lo. Evite a espada. Evite usá-la em nome de Deus ou de outra injustiça. Sim, ela pode prevenir. Mas você tem que ter cem por cento de certeza da iminência do perigo, o que é impossível. Por isto, quando vires um rapaz em busca de sol e chuva, ao invés de usar a espada, mostre a ele que os dias, em sua maioria, são nublados. E temos que aceitar.

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