quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Simple Man




Eu fiz intercâmbio para Vancouver, em 2004. Poxa, achei incrível. Me senti em um filme. Era novo. Já tinha ido a Europa, Mas não sei. Lá me cativou.

Fiz muitas amizades. Muitas. Ainda não carregava a ferida do falso amigo. Do traidor. Achava que todos eram amigos.

Certo dia, por um erro do curso, eu fiquei literalmente na rua. Literalmente. Fui ao aeroporto e minha passagem tava com defeito. Tinha que esperar dois dias!

Dinheiro eu tinha. Não muito, mas o suficiente. Porém eu não achava lugar que eu poderia pagar.

Desesperado, no celular com minha avó (que também chorava), eu não sabia o que fazer. Quando desliguei, lembrei de um cara que havia conhecido no Stanley Park. Um brasileiro, de vitória, que vendia coco na praia e agora estava lavando prato no Canadá. Seu sonho era ser lutador. Cheio de marra!

Liguei pro marrento. Na mesma hora, ele falou: irmão, você está onde?

Eu falei: Fábio (cabeça de coco), nem sei onde estou!

Ele respondeu: Manda o cara tocar pra tal lugar!

E eu fui. Ele segurou minhas malas. Falou para eu dormir na cama que ele dormiria no sofá. Não achei. Mas ele era marrento mesmo. – Vai dormir, sim! É convidado, pô!

No momento eu até pensei: será que ele quer grana?

Nada. Cabeça de coco nem aceitou. Se eu oferecesse mais uma vez, ele falou – rindo - que ia me botar pra baixo e finalizar.

O dia que fiquei lá, ele contou a história. – Vim aqui pra juntar dinheiro, voltar pro Brasil, comprar a casinha pra minha mãe e virar lutador profissional.

Eu olhei com pena. E ele fez aquela pose de Rocky Balboa.

- Siri (meu apelido) a vida não me derruba não irmão. Poderia casar aqui, mas quero voltar pro Brasil.

Nós tiramos uma foto. Com o Mário, que mora lá até hoje e tem um filho com uma japonesa.

Fomos sair à noite. A fila enorme. Cabeça de Coco deu um “jump” na grade e riu. Jeito brasileiro. Palhaçada.

Eu então passei a brincar com ele: você está aqui há não sei quantos anos e ainda não aprendeu inglês! Burro pra caramba!

Começou esta piada, que durou muito tempo. Ele sempre ligava, já em Vitória, perguntando se eu tinha aprendido a falar inglês.

Estes dias o reencontrei. Meus olhos encheram de lágrimas. Minha avó também. Diz que vai virar lutador, ainda. Vamos esperar este dia.

Sempre quando escuto aquela música do Rocky Eye of The Tiger, eu lembro do Fábio cabeça de coco.

Ele já é lutador e não sabe. Não vou encher a moral dele. Eu vejo aí os famosos caindo por causa de depressão, droga, ou sei lá. E tá lá o guerreiro.

E vejo minha vida e minha depressão e nem me sinto com o direito de ter.

Cabeça de coco não aprendeu inglês, mas me ensinou uma lição: humildade vem da natureza humana. Ela não se conquista. A pessoa já nasce assim. Pode até um dia subir à cabeça, mas logo ela volta.

Falando sério: espero que ele vire lutador e ganhe a vida.

E falando sério: será que ele já entendeu a piada do Motel?

Meus olhos enchem de lágrima ao me lembrar de quem me acolheu, quando os “amigos” do Canadá inventavam desculpas.

Para finalizar: fiquei sabendo que ele foi expulso do prédio. O canadense, dono, tentou tocar fogo pra ganhar o seguro e ele apagou.

Só ele mesmo!

Irmão nós estamos juntos! Você é feinho, mas eu te amo.

Música pra você: Simple Man . Pena que você não sabe inglês. Pega a tradução!

Tenho muito carinho por você.

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