sexta-feira, 25 de março de 2011

E o sangue é a unica união ...

Meu pai nos abandonou quando eu tinha três meses. Deixou-me com minha avó e mãe o encargo de cuidar de mim.

Sempre tentei enterrar a dor, mas é impossível perdoa-lo. Ele hoje pode alegar que minha mãe era chata ou que não tinha dinheiro para cuidar de uma criança. Não vejo fundamento. Elas também não tinham.

Meu padrasto apesar de que sempre ter cuidado muito bem de mim nunca me viu como seu filho. Não o culpo. Eu tenho mais é que agradecer, pois ele é até hoje o porto-seguro emocional de minha mãe.

Nunca tive problemas ou gozação na escola porque não tinha “pai”. Por anos ele não me procurou e eu não procurei.

Hoje deitado na cama veio-me à cabeça uma memória triste. Não para o leitor sentir empatia por mim, mas porque sinto a necessidade de escrever e não tenho medo de mostrar minhas fraquezas.

Eu tinha mais ou menos onze anos. Nós nos mudamos para Pirenópolis, em Goiás. Foi uma época dura. Cheguei a escrever um livro contando a experiência.

Em frente a nossa ainda existe uma praça chamada “Praça do Coreto”.

A memória está clara como o dia. Nós fomos à Goiânia e voltamos. Foi quando eu vi um homem sentado do outro lado da praça muito parecido com as fotos do meu pai.

Não sei o motivo, mas eu fiquei espiando o homem sentado, sozinho e bem distante. Então eu pensava: será que é o meu pai? Será que ele está com vergonha de entrar em casa? Ou quer fazer uma surpresa?

No dia seguinte o homem voltou ao mesmo lugar. E eu fiquei observando pela janela. Depois de três dias, ele sumiu.

Sei que muitos passaram e passam pela mesma situação. Ou até bem pior. Não dá pra explicar o sentimento.

Meu pai é tão desconhecido como um estranho que vejo na rua. Minha irmã, por parte dele, não compreende e não aceita o fato de eu negá-lo como pai. E eu, talvez por raiva, projeto minha frustração nela.

O que sei é que além de não ter um pai, minha irmã também é tão desconhecida como ele.

Minha mensagem é: se você tiver um filho (a), fique por perto. Não precisa dar suporte financeiro, mas dê o espiritual e emocional. É muito egoísmo colocar uma pessoa neste caótico mundo e deixar aos cuidados de outros. Você sempre, querendo ou não, será um vilão. Um vilão de forma subconsciente. Também pense na mãe, como ela tem que se privar e se virar para cuidar sozinha. Eu sei que todos são passíveis de errar. Falíveis. Mas o cara nunca me pediu desculpas e teve vinte e oito anos para elaborar a melhor delas. Nem mesmo fez questão de pedir. Hoje, eu tento tirar o nome de meu pai da certidão de nascimento. Não por vingança, porque não deve representar nada para ele. Mas porque meu sobrenome não tem relação com quem eu sou ou com minha família.

Um comentário:

  1. Compreendo bem sua angústia e insatisfação.Como você mesmo disse,muitos passam pelo mesmo problema.Mas o importante é não se deixar abater e ir tocando a vida,procurando sempre fazer o melhor que pudermos.Gostei muito dessa narrativa.Grande abraço!

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