Sentado na varanda de seu sítio em Itaipava, Região Serrana do Rio de Janeiro, Paulo conversava sobre sua vida particular com sua mais antiga e melhor amiga, Andréia.
- Acho que estou pensando em me matar. – disparou, ao dar um gole no whisky.
- Não é meio paradoxal “achar” que estar “pensando” em se matar? – retribuiu, com gargalhadas.
- Não, é sério. – disse, olhando-a de forma furtiva. – Estou pensando em cometer suicídio.
- E por qual motivo? – ela quis saber, bebendo um gole do copo do amigo.
- Sei lá. – disse, dando de ombros. – Pelo mesmo motivo que não sei. Um completo tédio tomou conta de minha vida.
- E dar um tiro na cabeça vai dar mais excitação a ela? – falou, ajeitando-se na cadeira.
- Quem disse que eu vou me matar com um tiro? Sou um “pseudo suicida” medroso! – falou, divertindo-se com suas próprias palavras.
- Como vais se matar, então? – perguntou, acendendo um cigarro, sucedido de um trago e um forte cheiro de tabaco no ar puro da serra.
- Você vai me matar. – contou, fitando-a com profundidade.
- Aí não seria suicídio. Seria homicídio, não acha?
- Tem razão. – disse, apontando para o bar. – Você poderia pegar mais uma dose do whisky? Ando tão entediado, que nem forças eu tenho para continuar com meu alcoolismo.
- O álcool vai acabar te matando. Isso sim. – disse, pondo-se de pé e enchendo outro copo de whisky com gelo. – Tome. – continuou, voltando a sentar-se. – Já decidiu como vai morrer? – retornou a conversa.
- Envenenado. – disparou, dando uma golada na bebida.
- E como? – perguntou, sorrindo.
- Com o copo de whisky que você acabou de fazer pra mim!
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