domingo, 17 de julho de 2011

As Duas Mulheres Da Minha Vida

Minha avó passou quase metade de sua vida dedicando-se ao problema dos outros. Não por obrigação; e sim, por vocação.

Defensora Pública, ela diz que sempre amou seu trabalho, apesar de, não ser o seu ofício predileto. Ela queria ser professora. De letras. Hoje, está pensando em pedir reingresso na faculdade. Agora quer fazer informática.

Se na vida há vencedores, minha avó pode se dizer um deles. De datilógrafa do Tribunal de Contas – ganhando menos do que um salário mínimo – a uma confortável vida. De fora para dentro, ela tinha tudo para ser feliz. De fora pra dentro.

Como mencionei, minha avó passou metade da vida cuidando dos problemas dos outros. O problema é que ela se esqueceu de cuidar dos próprios problemas.

Doa a quem doer, a verdade é esta: um marido distante e duas filhas pródigas.

Seu lar se deteriorava, enquanto ela tentava reconstruir parte de uma sociedade eqüidistante e hiposuficiente.

Hoje, aos 72 anos, vejo refletido em mim como o passado a incomoda. Minha mãe – por exemplo – é uma pessoa brilhante. Eu diria: genial. Confesso que nunca conheci ninguém tão especial. E olha que não me declaro suspeito por ser filho.

Mas minha mãe sempre viveu na inércia dos sonhos. Uma utopia. Utopia esta que ela conseguiu transformar – durante alguns anos de sua vida – em literatura. Depois cansou. Não para o público. Para si mesma. Meu padrasto foi um anjo na minha mãe. Sem ele, ela nada seria.

Eu pretendo ser um misto de minha avó e minha mãe. Ter a destreza de uma e a genialidade de outra.

Como disse certa vez: as duas mulheres de minha vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário