domingo, 28 de agosto de 2011

O Discípulo

Medo se esconde na alma. Não tem coragem, mas não se acalma. Quando provocado resiste, mas não consegue. Faz com que você aja por impulso, com pouca ou nenhuma razão. O medo é capaz de fazer o adversário nos controlar. Fazer com que nós nos mesmos nos derrotemos.

O medo não é ilusão. Não é fantasia. Ele faz parte do sonho. Todos nós temos pelo menos um sonho. E com ele, um medo. Quando a coisa não começa a dar certo, nos desesperamos. Mas o orgulho é irmão da falsa coragem. Ficamos porque desejamos mostrar que somos vencedores. Mas e se, em algum momento, como no Aleph, o discípulo conseguir mostrar que havia mais coragem e sabedoria do que qualquer um poderia imaginar?

Um viajante chegou ao encontro de um antigo mestre de espadas. Carregou apenas uma pequena, sem muito corte e brilho. Já o mestre, surgiu logo com uma rara forjada por um Mago, com o fogo do ultimo Dragão.

E era ali que sua fama residia: décadas atrás, ele saíra de sua terra natal e fora até o deserto, com o fim de se encontrar e aniquilar, apenas pelo Ego, o dragão. Rezava a lenda que ele trouxera a cabeça do bicho, arrastando até o vilarejo onde agora os dois se encontravam.

E lá, o mestre ofereceu sua espada. O viajante estranhou: por que está me dando a espada forjada pelo fogo do Dragão? Sou melhor do que ti e você vai perder a luta rapidamente.

O mestre, além de ser especialista em espada e guerra, também dominava a arte do silêncio.

O viajante, sem saber o que fazer, agachou para pegar a espada do Mestre, que sorriu.

- Não está com medo? – perguntou o viajante, - Não dá valor a sua honra de invencível?

O mestre meneou a cabeça em negativo.

O viajante então se desesperou. Começou a lutar sem controle, nervoso pela calma do adversário. E não era possível. Ele o estudara por toda a vida. Sabia de cada movimento e cada golpe; era capaz de vencer.

Então, ao receber um golpe na mão, ele teve seu momento divino de serenidade. – Espere. – falou. – Meu medo está conduzindo os seus movimentos. Eu sou um tolo! Devolva-me minha espada que ficarei melhor! – pediu como se implorasse.

A espada foi devolvida e o viajante começou a expressar felicidade. O mestre fingiu que nada entendia.

- Ambas as espadas não cortam, não é mesmo? É uma ilusão. – disse o viajante.

O mestre ficou surpreso. – Como sabias?

- Sei porque também sei que não há nenhum dragão. Que você é um incrível Ilusionista. Um Mago da vida real. Você não quis derrotar, mas ensinar. Quando vim até aqui, devido a um sonho, todos me chamaram de louco. Você nunca iria me ensinar. Então vi alguns aldeões saírem na calada da noite e presumi que contaram a você sobre minha fraqueza em uma das mãos.

O Mestre consentiu com a cabeça, dizendo: Fico feliz que encontrou a resposta, logo no desafio mais difícil. Sua fraqueza nunca esteve nas mãos, mas na mente. Você ficou e não fugiu. No início achei que orgulho, mas agora vejo que aceitarias morrer para aprender.

Os dois então caminharam para um abraço, mas voltaram. – Não. – disse um, em tom de desconfiança.

- Não. – disse o outro, abraçando o discípulo.

Todo mestre também sabe ser discípulo. E quando o discípulo está pronto, o mestre deve aparecer.

2 comentários:

  1. Parabens Raphael!
    A forma que você escreve é demais!
    Quero conversar com você a respeito do seu livro! será que você poderia me dar uma ajuda?! rs
    Tem algum email que podemos conversar? meu email é gonfbc@gmail.com
    Fico no aguardo, e de qualquer forma muito obrigado! abraçao! =D

    Fabricio

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