domingo, 21 de agosto de 2011

Os dias vindouros me pertencem

“Somente os dias vindouros me pertencem. Alguns homens nascem póstumos”. Esta frase foi escrita por Nietzsche há mais de 100 anos (para ser mais exato, em 1888).

Confesso que ao deparar-me com tal frase fui tomado por dois tipos distintos de sentimentos, que estranhamente ambíguos, se convergem em sua mais peculiar divergência: a desconfiança e a confiança.

Desconfio que nosso “pensador póstumo” tenha ficado completamente desiludido com a falta de êxito que suas idéias tinham a seu tempo. Sempre incompreendido, e tentando compreender o porquê da incompreensão, talvez seja este o ápice da cadeia depressiva de Nietzsche, que, numa tentativa de fugir de todo e qualquer insucesso, resolveu colocar-se acima da sociedade, ou, como ele mesmo denominou: humanidade.

Como muitos sabem, tenho uma posição sedimentada no que diz respeito aos grandes escritores: eles são chatos, e por serem chatos, escrevem propositalmente de forma complicada, visando assim elevar-se ao patamar superior da grande maioria.

Confio que este não seja o caso de nosso “pensador póstumo”. Ele poderia, realmente, estar convicto de que suas idéias floresceriam tempos após sua partida. Porém, ainda não consigo perder aquela sensação de que Nietzsche, ao contrário da célebre frase de Winston Churchill (O segredo é ir de fracasso em fracasso, sem perder o entusiasmo), tenha realmente perdido todo o entusiasmo.

Quando digo que sinto falta de debates mais aprofundados; tanto pela falta de amizades capazes, quanto pelo caminho que escolhi, pode soar um pouco “arrogante”. Não desejo me colocar acima de ninguém. Não desejo escrever palavras complicadas e bonitas. Desejo, sim, poder produzir algo de útil. Mas, tanto para um jovem de 24 anos, que vos fala, como para um filósofo de idade avançada, não é possível que se negue a tristeza de não ter a quem compartilhar tais tipos de reflexões.

A vida, e seus problemas, têm se tornado a cada dia tão superficiais, que somos levados à tênue obrigação de nos tornarmos similares às questões. Em que pese minha tentativa de fuga, temo ser levado ao mesmo “Anticristo”. Solitário e depressivo.

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