sábado, 20 de agosto de 2011

O dia em que desisti

Quando você não tem absolutamente nada, você tem que confiar em seus sonhos e em si mesmo.
Você está perdido. Você carrega aquela pastinha debaixo do braço, batendo de porta em porta. Ninguém está sequer interessado sequer em saber o que você carrega. Você se desanima, chora e pede para Deus fazê-lo acreditar mais uma vez. E a gente nunca se acostuma com isto. Podemos aprender a segurar o choro; a disfarçarmos a tristeza. Dizemos e sentimos que vamos conquistar.
Então, pouco a pouco, vamos construindo nosso caminho. Ele é repleto de buracos, ladeiras, curvas fechadas e desafios. Depois de sentirmos como é gelada a algema do medo; a prisão de um quarto e a humilhação por sermos que nós somos, não temos tempo para a autopiedade. Alegramos com cada conquista. Exageramos. Temos um dos primeiros choros de alegria. E o drama da vida real parece que vai sumindo e sumindo.
Porém certo dia, animado - mas também cansados - chegamos a estrada e notamos que alguém a destruiu. A primeira reação é não acreditar. Juntar os pedaços de pedras ao chão, sem sucesso. Depois, levamos as mãos à cabeça e começamos a chorar. Pegamos a pastinha que ninguém quis ler e, com raiva, rasgamos. De longe, percebemos pessoas zombando e se alegrando da sua dor. Sim, você tinha mentido para conseguir algumas pedras. Você tinha errado muito; continuaria errando. E um zombador diz: é o castigo de Deus.
Você para por um instante e lembra de tudo o que aconteceu em sua vida. Os erros e acertos. Não há culpa, nem piedade. Mas com os olhos marejados o peregrino agora sem esperança pergunta: Se o castigo é de Deus, como você pode se autoproclamar um instrumento dele?
Eles zombam ainda mais. Furioso, chuta as pedras que sobraram. Vê sua pastinha no chão, toda rasgada. Sua estrada destruída. Sonhos perdidos. Esforços feridos. Então olha para si mesmo e sem pena vê a triste verdade. A verdade de que aquela estrada acabou e agora, teria que procurar outro motivo para se sentir realizado.

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