O deserto ensina
muitas lições. Paciência para cruzar milhas e milhas de “nada”
à espera de “algo”. Fé para continuar a caminhar, sem saber se
está na direção correta. E força, para aguentar o cansaço e o
desânimo.
Gabriel prometeu
acompanhar Lucas até a cidade esperada. Fazia por amizade, apesar de
não concordar com o sonho do amigo. E o amigo costumava dizer: eu
tenho vontade de ser um guerreiro. E vontade não se diz, vontade se
prova.
- E se o tal velho não existir?
- Ele existirá.
- E se ele não quiser ensiná-lo?
- Então eu o desafiarei. Se necessário, atacarei.
- Não fale isto Zahid!
Os dois permaneceram
em silêncio. Gabriel assustado com a determinação do amigo. E
Lucas, repleto de duvida e medo.
Lucas caminhava com
o peso da culpa. Lembrava-se de como juntara dinheiro para sua
jornada. Primeiro inventara um jogo de cartas. Ficava à tarde
inteira sentado à praça, em meio as lutas, apostando quem tirava a
carta maior. Ele aprendera em um dos livros de Alies, um conhecido
bruxo que vivera na região. O truque de uma ilusão, pensava Lucas,
era desviar a atenção do adversário ou jogador. O jovem Lucas
esperava a multidão gritar e então sorrateiramente trocava uma das
cartas. Não dava certo certo, mas dava certo. O livro de Alies tinha
diversos de outros truques, simples. O problema era que tal livro
fora banido da região, ao algum ancião dizer que o mal estava
“impresso em suas linhas”. Lucas não percebia nada daquilo. Eram
apenas ensinamentos, e seu temor a Deus – mesmo com as trapaças –
nunca deixara de existir.
Voltando ao deserto
Lucas e Gabriel encontraram uma meia dúzia de pessoas cavando a
areia. Espantados, aproximaram para ver o que estava acontecendo.
Todos cruzaram os
braços, e um homem barbudo se aproximou.
- Parados! - disse sorrindo. - Hoje é Segunda-feira. Feriado! Ninguém passa. Ninguém volta!
Os jovens se
entreolharam não entendendo nada. O homem apontou para a areia.
Lucas quis saber do que se tratava.
- Eles ficam aí. Procurando ouro. São tolos ou não são?
Gabriel deu de
ombros, não entendendo nada. Virou-se para Lucas e em voz baixa
falou: Encontramos um maluco.
- Maluco não! Maluco beleza. - completou o homem, repetindo a pergunta. - São tolos ou não são?
- Não. - respondeu Lucas.
- Não?! Estão procurando ouro no deserto!
- O seu tesouro pode estar enterrado nos lugares mais impossíveis, como no deserto.
- A vida é um deserto, não? Por vezes encontramos a felicidade, por outras nos deparamos com nada. Triste.
Gabriel quis logo
mudar de assunto, mas o “Maluco Beleza” insistiu. - Posso cantar
uma canção?
Quem eram eles para
negar. O “Maluco Beleza” então começou: Eu deveria estar
contendo por ter conseguido tudo que eu quis, porém estou
decepcionado.... Mas eu não posso ficar aqui parado... É você se
olhar no espelho e ver um ser humano que usa apenas dez por cento da
capacidade mental...
Que música
depressiva, pensaram os jovens.
- Depressiva? - perguntou o “Maluco Beleza”. - A realidade é triste. Por isto devemos fazer o máximo para aproximar a fantasia dela. E não se limitar! - explicou. - E por falar em realidade, aonde os dois estão indo?
- Encontrar o velho Zahid. - falaram quase ao mesmo tempo.
- O velho Zahid?! Ele já foi meu companheiro!
- Jura?! - perguntou Gabriel animado. - Mas por que não é mais?
- Cada um possui a sua jornada, meu jovem. Talvez você não entenda, mas o tempo irá lhe mostrar.
Depois da breve
conversa, o homem avisou para os dois passarem a noite ali. No dia
seguinte, pela manhã, ele pegaria sua “Nave Espacial”, que era
um calhanque movido a esperança. E os jovens notaram que, na
verdade, aqueles homens estavam em busca da esperança, que poderia
se encontrada até mesmo no deserto.
“A felicidade é
uma benção, mas geralmente é uma conquista”. - Paulo Coelho.
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