terça-feira, 13 de setembro de 2011

Velho Zahid III


O deserto ensina muitas lições. Paciência para cruzar milhas e milhas de “nada” à espera de “algo”. Fé para continuar a caminhar, sem saber se está na direção correta. E força, para aguentar o cansaço e o desânimo.
Gabriel prometeu acompanhar Lucas até a cidade esperada. Fazia por amizade, apesar de não concordar com o sonho do amigo. E o amigo costumava dizer: eu tenho vontade de ser um guerreiro. E vontade não se diz, vontade se prova.
  • E se o tal velho não existir?
  • Ele existirá.
  • E se ele não quiser ensiná-lo?
  • Então eu o desafiarei. Se necessário, atacarei.
  • Não fale isto Zahid!

Os dois permaneceram em silêncio. Gabriel assustado com a determinação do amigo. E Lucas, repleto de duvida e medo.

Lucas caminhava com o peso da culpa. Lembrava-se de como juntara dinheiro para sua jornada. Primeiro inventara um jogo de cartas. Ficava à tarde inteira sentado à praça, em meio as lutas, apostando quem tirava a carta maior. Ele aprendera em um dos livros de Alies, um conhecido bruxo que vivera na região. O truque de uma ilusão, pensava Lucas, era desviar a atenção do adversário ou jogador. O jovem Lucas esperava a multidão gritar e então sorrateiramente trocava uma das cartas. Não dava certo certo, mas dava certo. O livro de Alies tinha diversos de outros truques, simples. O problema era que tal livro fora banido da região, ao algum ancião dizer que o mal estava “impresso em suas linhas”. Lucas não percebia nada daquilo. Eram apenas ensinamentos, e seu temor a Deus – mesmo com as trapaças – nunca deixara de existir.

Voltando ao deserto Lucas e Gabriel encontraram uma meia dúzia de pessoas cavando a areia. Espantados, aproximaram para ver o que estava acontecendo.
Todos cruzaram os braços, e um homem barbudo se aproximou.
  • Parados! - disse sorrindo. - Hoje é Segunda-feira. Feriado! Ninguém passa. Ninguém volta!
Os jovens se entreolharam não entendendo nada. O homem apontou para a areia. Lucas quis saber do que se tratava.
  • Eles ficam aí. Procurando ouro. São tolos ou não são?
Gabriel deu de ombros, não entendendo nada. Virou-se para Lucas e em voz baixa falou: Encontramos um maluco.
  • Maluco não! Maluco beleza. - completou o homem, repetindo a pergunta. - São tolos ou não são?
  • Não. - respondeu Lucas.
  • Não?! Estão procurando ouro no deserto!
  • O seu tesouro pode estar enterrado nos lugares mais impossíveis, como no deserto.
  • A vida é um deserto, não? Por vezes encontramos a felicidade, por outras nos deparamos com nada. Triste.
Gabriel quis logo mudar de assunto, mas o “Maluco Beleza” insistiu. - Posso cantar uma canção?
Quem eram eles para negar. O “Maluco Beleza” então começou: Eu deveria estar contendo por ter conseguido tudo que eu quis, porém estou decepcionado.... Mas eu não posso ficar aqui parado... É você se olhar no espelho e ver um ser humano que usa apenas dez por cento da capacidade mental...
Que música depressiva, pensaram os jovens.
  • Depressiva? - perguntou o “Maluco Beleza”. - A realidade é triste. Por isto devemos fazer o máximo para aproximar a fantasia dela. E não se limitar! - explicou. - E por falar em realidade, aonde os dois estão indo?
  • Encontrar o velho Zahid. - falaram quase ao mesmo tempo.
  • O velho Zahid?! Ele já foi meu companheiro!
  • Jura?! - perguntou Gabriel animado. - Mas por que não é mais?
  • Cada um possui a sua jornada, meu jovem. Talvez você não entenda, mas o tempo irá lhe mostrar.
Depois da breve conversa, o homem avisou para os dois passarem a noite ali. No dia seguinte, pela manhã, ele pegaria sua “Nave Espacial”, que era um calhanque movido a esperança. E os jovens notaram que, na verdade, aqueles homens estavam em busca da esperança, que poderia se encontrada até mesmo no deserto.


A felicidade é uma benção, mas geralmente é uma conquista”. - Paulo Coelho.

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