quinta-feira, 3 de março de 2011

O Falso Profeta

Lá se ia o rapaz. Cabeça raspada, sorriso para dentes brancos. Simpatia maior não tinha.

O conceito de cidade não se mostrava a ele mais do que umas três viagens a lugares distintos do Estado.

No dia em que chegara a carta, seu coração se dividiu entre a arritma da alegria e do temor.

Era o que ele tanto sonhara, com os pés pra cima, bem distante do chão. O impossível que ele batalhara, e fez de tudo para não deixar escapar, mostrou-se digno de cada esforço.

Eis que adentrou o seminário São Bento. Ávido por conhecimento e para os exercícios do sacerdócio viu que melhor aluno não tinha.

Não largava a Bíblia um minuto sequer. Criticava de Joseph Smith a Ellen G. White.

O dia de colocar o colarinho branco no pescoço chegou tão depressa que dividiu lugar com a insegurança. Dinheiro não carecia, devido a herança de seu pai. Todavia faltava coragem e autoestima.

O rapaz começou a andar mais incluso e fechado. Poderia ser o ofício da tristeza, alguns pensavam. Ele evitava fazer contato visual com qualquer pessoa. Lançava passos largos pelos corredores que ecoavam o som do sapato.

Foi então que um detalhe peculiar começou a dar-se lugar, para motivo de tristeza ou piada. A barriga do jovem aumentava cada vez mais. Uns pensaram que poderia ser verme outros bradavam ao criticarem tamanho sedentarismo!

“Tenho certeza que em corpo equivocado encarnei”, dizia ao diretor do seminário. “O que Deus não quis me corrigir então tomei por mim o próprio milagre. Paguei um cirurgião, removi os seios, me enchi de hormônio masculino e, por fim, tratei de arrancar todos os cabelos”.

Atônito, o diretor saiu de seu escritório como se tivesse tido uma visão. Perdera-se na loucura e a vida partiu.

Belo funeral, realizado pelo mesmo rapaz, agora padre.

“A verdade o libertará”, proferiu.

Não demorou a ser pego no flagra. Expulsou da Igreja foi. Por sorte, como falou o Bispo, era de outrora o tempo das Cruzadas ou da Inquisição.

Foi aí que a Igreja teve seu primeiro “padre mulher”. Mui orgulhoso de si. Enganara a todos a passar da conta e agora soltava risadas, como um pequenino menino irresponsável.

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