quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Tempestade

Certa vez, em uma terra muito distante da realidade, onde a chuva era contínua e tão triste de fria.

Não aguentando mais ficar sob a tormenta, um jovem lembrou-se de uma velha lenda. Uma lenda que carregava como verdade durante toda a sua vida. Uma lenda que de tão louca, parecia o nada. Impossível.

A lenda era sobre um homem sábio que fizera algo realmente impossível: acalmar a fúria do deus Thor.

Pensava o jovem, que o sábio desafiara Thor e depois de duelo tinha vencido Thor e mostrado a ele que também era um “deus”. Que todos os homens eram deuses. Autores da vida. Capitães do pecado. Inimigos da chuva. Apenas se limitavam.

Munido de todas as informações sobre o sábio que aprendera no jardim da mãe, ele foi à busca de um duelo. Era a vez do sábio se render a outro jovem, como Thor havia feito.

Chegando ao campo de batalha, o jovem, cego por ambição, batalhou de forma implacável. Estava decidido. Morreria lutando, mas não voltaria para a chuva.

O sábio homem nada fez. O jovem se sentiu mais irritado ainda. Ele não era menor que o homem. Ele tinha plena convicção.

Passado anos, o sábio então apenas disse: Observe.

- Observar o quê?

Foi então que o jovem se deu conta de que ambos estavam ensopados. A chuva nunca cessara. Nem um minuto. Os dois estavam debaixo da mesma tempestade. A alma do jovem jogou-se ao sofrimento. A uma auto piedade.

- Diz à lenda que foi você que venceu Thor. E eu acreditei! Eu acreditei quando ninguém acreditou! Eu estudei. Eu treinei. E agora, com apenas uma palavra, você me derrota? Mande cessar a chuva. Diga que não é mentira!

- Para quê as armas? Para quê tanto ódio e mentira?

- Mentira?! Eu não minto. Eu aprendi com você. Eu aprendi que não adianta demonstrar amor. Eu aprendi que o guerreiro que não bajula é um guerreiro forte.

Ambos caíram no choro. E foi no momento do choro, que o jovem sentiu o sofrimento ir um pouco embora. Aqueceu sua alma.

Lembrou-se de outros “mestres” que ele procurara, sempre na intenção de alcançar o sábio homem. Lembrou-se de suas noites aflitas, onde chorava, pensando que o sábio o julgaria como mais um tolo jovem, à procura de fama e não se aprendizagem. De que ele queria fama, reconhecimento; ele queria pagar o preço. Nunca achou que seria de graça.

Quantas pessoas que ele magoara em meio à jornada, egoísta ao ponto de não reconhecer que elas também estavam sob a chuva. E agora descobrira também que o sábio também tinha seus dias de chuva. E eram todos os dias.

Thor não tinha sido derrotado. Thor nada mais era do que a humanidade em conflito com o verdadeiro Deus. E aquele Deus, ninguém poderia derrotar. E ninguém obrigar ninguém a ensinar.

- Você me estudou a vida inteira. Você me procurou quando já tinha encontrado. Você duvidou de sua essência boa.

- Como sabe de tudo isso? – perguntou o jovem, largando a espada.

- Eu sempre estive no jardim e nunca estive sozinho. Mas você se tornou tão cego, que não quis enxergar. – disse o sábio pegando a espada do chão e entregando ao jovem. – Sua emoção o domina a ponto de deixar sua espada no chão. Pegue-a de volta. Siga sua jornada e vá lutar. A luta não é contra mim, nem nunca foi.

- Aconteceu o que eu temia. – disse o jovem, já com a espada na bainha, afastando-se do homem.

- A chuva?

- Não. Como não aprender a amenizar a dor da chuva, já que ela não cessa.

- Eu não estou ensinando? – concluiu o sábio.

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