sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Velho Zahid Parte III



Certo dia um homem viveu um conto de fadas sem
aparente final feliz.



Ele vivia em um Palácio chamado Ilusão onde todos
pareciam felizes e contentes.



Sentindo-se infeliz escapou dos guardas e de seus
tutores. Começou a perambular pela pequena vila ao lado do Palácio. Ele era um
príncipe como na bela história de Hermann Hesse; porém não era a iluminação que
procurava. Não a paz interior. O homem necessitava conhecer e aprender. Lia
todas as obras e batia em todas as tendas que poderiam oferecer algum
ensinamento.



De madrugada costumava embebedar-se. Entorpecido
ficava a imaginar como poderia adquirir todo o conhecimento do mundo.



Rapidamente ele ficou conhecido como louco. O louco
que aprendera tantos idiomas que a vila se tornou para ele uma grande Torre de
Babel. Não mais conseguia comunicar-se com ninguém e não mais desejava aprender
mais nada do que alguém poderia ensinar.



Notando que progresso já não mais fazia optou pelo
isolamento. O mesmo isolamento do lendário velho Zahid, um senhor que vivera
durante séculos e séculos. De tanto
conhecimento ficara cego. Todo o mundo o via, mas ele não conseguia enxergar
ninguém.



E o homem, entre suas peregrinações pela solidão,
encontrou uma bela moça que dizia estar perdida e conseguia falar a sua “língua”.



– Posso acompanhá-lo? – ela perguntou. Seus olhos
traziam muita tristeza. Seus olhos se assemelhavam com o do homem. Eram
misteriosos, enigmáticos e até mesmo enganadores.



- Não sou boa companhia. Não sabe que sou conhecido
por minha loucura?



- De fato eu estava aqui a sua espera. Sua loucura
me fascina. Você pode me ensinar a ser como você?



O homem riu. – Como eu? Leia o velho Zahid. Lá está
tudo que você poderia saber. Eu sou um mero aprendiz.



A moça o pegou pelo braço e brincou: Aprendiz?
Aposto que você ganharia do velho Zahid! Você conhece como ninguém o jogo dele.



- Ganhar do velho Zahid? – ironizou o homem. –
Melhor mudarmos de assunto. Sou conhecido como louco, mas não foco no
impossível. Venha aqui e vou ensiná-la tudo o que sei. Todo o jogo da vida.
Depois siga seu caminho e procure alguém que a faça feliz. Sabedoria só me
trouxe mais e mais tristeza e solidão; não quero o mesmo para você.



Os dois então se tornaram inseparáveis. Grandes
amigos. A pequena nunca deixou de impressioná-lo. “Boa jogada”, sempre dizia o
homem. “Você é melhor que o velho Zahid”, ela não cansava de repetir.



Um dia, já furioso com a repetição, ele perdeu a
concentração por um minuto e berrou com ela: Pare de falar isto!



No mesmo momento ela direcionou uma da peça do jogo
que jogavam e disse: Xeque.



Assustado o homem voltou a atenção para o tabuleiro
e tentou reverter a jogada. Ele fitou a pequena mesa de madeira como se fosse
sua vida. Não havia saída.



- Você é melhor que o velho Zahid! Concentre-se!
Você precisa de concentração!



Acuado, ele imaginou todas as jogadas. E ela não
parava: Concentre-se! Você já ganhou! Concentre-se, pequeno Zahid!
Concentre-se!



O mesmo fechou os olhos, respirou fundo e tornou a olhar
para o tabuleiro. De repente, ele bateu com força sobre a mesa, derrubando
todas as peças.



- Você tinha a vitória na mão! – ela berrou agora, furiosa.
E sua raiva foi tanto que seu rosto imediatamente mudou. Envelheceu como se um
feitiço tivesse sido cortado. – Por que você desistiu no final? – disse agora a
voz masculina.





... Continua.



O impossível é nada. – Ali.



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