Capítulo 1.
Abri a segunda garrafa de vinho e me larguei no sofá. Ainda não estava embriagado, o que aconteceria em questão de minutos. Com o controle na mão procurava algo de interessante na TV. Nada de bom, pensava enquanto dava um gole enorme esvaziando o copo.
Continuei a procurar e cheguei a um canal de música, onde uma cantora sertaneja se apresentava. A voz era linda, e a cantora? Ainda mais. Fascinado, me perdi entre a embriaguez, o copo, a voz, a música e a beleza.
Quando me dei conta já havia se passado quase meia hora e eu não tinha escrito nada para o Blog em que trabalhava. Sem pensar muito, sentei de frente para o computador, fiz uma rápida pesquisa no “Google” e escrevi sobre a cantora. Enviar e pronto.
Em seguida segui o ritual de todas as noites: sentar no parapeito da janela, olhar para o céu e terminar a garrafa que já até havia perdido o número.
Eu gostava da minha solidão. Gostava do meu vinho. Gostava de ganhar uma quantia razoável no Blog, com as propagandas. Era uma forma isolada de viver, mas depois de tudo, sentia necessidade. Vivia brigando com a vida; entre momentos de profunda tristeza e momentos de aceitação de uma perda. Apenas o vinho conseguia diminuir um pouco a culpa que carregava.
Eu sabia que a vida tinha que continuar. Só não queria continuar com ela; não da mesma forma de antes.
***
No dia seguinte meu amigo, e “agente”, Fernando me ligou eufórico. – O que você escreveu?! A imprensa está em cima!
Mexi-me na cama, ainda tentando ter certeza que o celular tinha tocado. Estendi meu braço até a cabeceira, empurrei uma garrafa de vinho ao chão e procurei meus óculos.
- Do que você está falando? – perguntei colocando os óculos e sentando na cama. – Que horas são?
- Já passou da hora de acordar! Você ainda não sabe de nada mesmo?!
- Eu bebo e você age como um bêbado?
- Liga seu computador! Seu Blog ficou famoso! Você deve estar com grana pra caramba só de propaganda!
“Que diabos ele está...” praguejei em direção ao computador, liguei o monitor e quase caí de susto.
- Quase um milhão de acessos nas ultimas horas?! – perguntei, apavorado.
- Não te falei! Acabou a depressão! Estamos ricos!
- Estamos? – perguntei sem dar muita atenção. Eu queria descobrir o que havia escrito de tão importante para o site conseguir tal número de acessos. E quando li o texto, meu coração disparou.
- Eu não escrevi... – falei voltando atrás nas palavras.
- O que você disse?
- Nada. Nada.
Terminei de ler o artigo. Alguém postara sobre a vida íntima da cantora. Alguém havia usado o meu Blog para ataca-la. Por outro lado, eu estava literalmente rico.
- Vamos comemorar?! A imprensa quer te entrevistar. Já agendei um programa matinal.
- Preciso pensar. – desliguei o telefone na cara do meu amigo, ainda perdido no que tinha acontecido. Voltei a ligar para ele, pedindo para nos encontrarmos em meia hora. Eu precisava saber o que iria fazer.
Antes de sair de casa, uma pergunta veio à minha cabeça: como a moça deveria estar se sentindo?
Saí de casa, não imaginando o que minha decisão causaria em minha vida. Na vida dos dois.
Direitos Reservados à Pirataria.
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