A noite caiu e com ela o frio do deserto. A chuva
havia diminuído, mas suas pesadas gotas ainda machucavam.
Gabriel tirou uma pequena barraca que se lembrara de
trazer consigo. Lucas estava sentado distante admirando o céu. Nada fez para
ajudar; estava pensando nas estrelas. Algumas que ainda brilhavam, já não
existiam. Outras formavam lindas constelações de desenhos uniformes, conforme o
céu pedia. Muitas eram enormes e quase nada refletiam; como se guardassem ou
não tivessem luz nenhuma.
Por que elas não brilhavam? Sentiam-se diminuídas
pela lua?
Agora Lucas ainda se encontrava com duvida e medo.
Medo de fracassar. De seguir sinais que ele mesmo poderia ter inventado para si
mesmo.
Ele estava cometendo um dos maiores erros que
cometemos todos os dias: desconfiar de nossa intuição.
Intuição não é apenas achar que deve fazer ou que
vai fazer algo. Intuição é sentir; saber que nem todo caminho pode ser o certo.
Que não existe O CAMINHO. Apenas os que traçamos com fé em Deus e coragem na
luta. Que não existe A VERDADE, apenas a que queremos acreditar. Que A VIDA é a
oportunidade que Deus nos deu de aceitar a nossa Verdade, fazer dela a dEle e
caminharmos não procurando a perfeição, mas a correção de nossos defeitos.
Aceitar nossa natureza falível. Saber perdoar, porque é divino ser perdoado.
Intuição para Lucas foi olhar para o céu e
deparar-se com a Constelação da Estrela Bailarina; uma estrela que a lenda
dizia unir vidas e histórias. Lembrou-se de ler um texto, uma carta aberta aos
sábios ocultistas. De tão novo não mais conseguia recordar-se de suas palavras
e até mesmo duvidada de ter entendido ou visto direito o que ela dizia. O que
impressionou o jovem guerreiro foi seu primeiro contato indireto com o “oculto”,
com a lenda de “Zahid”. A carta pregava a democratização, a libertação: e era
justamente de guerreiros assim que as aldeias precisavam. Guerreiros não com
uma cega justiça divina, que é atributo de Deus. Guerreiros que não eram
adeptos ao julgamento, mas a levar luz aonde havia escuridão. Pessoas que
sabiam: uma vela não é acesa com um assopro. Assim como não há escuridão que
traga luz.
Anos depois surgiria alguém tão sábio como o velho
Zahid e diria: se não puder ajudar, não prejudique.
Pelas escrituras Lucas sempre soube que Zahid também
errava e não negava. Também sofria e chorava. Em seu coração sabia que nunca
guardaria mágoa alguma de Zahid. Lucas sabia que aquela era a sua jornada, suas
dores e feridas, como a de qualquer outro.
O jovem pensava tanto que até mesmo o sinal ele
deixou passar. Precisou que Gabriel corresse em sua direção, dizendo: A Estrela
Bailarina! Veja Lucas! Nós estamos no caminho certo. Zahid diz que esta Estrela
sempre leva a bons caminhos! Abençoado seja – exaltou. – Agora levante daí e
ajude a arrumar a barraca! – continuou jogando um pouco de areia no amigo, de
brincadeira. - Uma coisa eu tenho certeza que nem o sábio dos sábios poderá ajuda-lo:
a parar de perder em seus sonhos e esquecer-se, por um instante, de tudo ao seu
redor.
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