quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O Velho Zahid VII


A noite caiu e com ela o frio do deserto. A chuva havia diminuído, mas suas pesadas gotas ainda machucavam.

Gabriel tirou uma pequena barraca que se lembrara de trazer consigo. Lucas estava sentado distante admirando o céu. Nada fez para ajudar; estava pensando nas estrelas. Algumas que ainda brilhavam, já não existiam. Outras formavam lindas constelações de desenhos uniformes, conforme o céu pedia. Muitas eram enormes e quase nada refletiam; como se guardassem ou não tivessem luz nenhuma.

Por que elas não brilhavam? Sentiam-se diminuídas pela lua?

Agora Lucas ainda se encontrava com duvida e medo. Medo de fracassar. De seguir sinais que ele mesmo poderia ter inventado para si mesmo.

Ele estava cometendo um dos maiores erros que cometemos todos os dias: desconfiar de nossa intuição.

Intuição não é apenas achar que deve fazer ou que vai fazer algo. Intuição é sentir; saber que nem todo caminho pode ser o certo. Que não existe O CAMINHO. Apenas os que traçamos com fé em Deus e coragem na luta. Que não existe A VERDADE, apenas a que queremos acreditar. Que A VIDA é a oportunidade que Deus nos deu de aceitar a nossa Verdade, fazer dela a dEle e caminharmos não procurando a perfeição, mas a correção de nossos defeitos. Aceitar nossa natureza falível. Saber perdoar, porque é divino ser perdoado.

Intuição para Lucas foi olhar para o céu e deparar-se com a Constelação da Estrela Bailarina; uma estrela que a lenda dizia unir vidas e histórias. Lembrou-se de ler um texto, uma carta aberta aos sábios ocultistas. De tão novo não mais conseguia recordar-se de suas palavras e até mesmo duvidada de ter entendido ou visto direito o que ela dizia. O que impressionou o jovem guerreiro foi seu primeiro contato indireto com o “oculto”, com a lenda de “Zahid”. A carta pregava a democratização, a libertação: e era justamente de guerreiros assim que as aldeias precisavam. Guerreiros não com uma cega justiça divina, que é atributo de Deus. Guerreiros que não eram adeptos ao julgamento, mas a levar luz aonde havia escuridão. Pessoas que sabiam: uma vela não é acesa com um assopro. Assim como não há escuridão que traga luz.

Anos depois surgiria alguém tão sábio como o velho Zahid e diria: se não puder ajudar, não prejudique.

Pelas escrituras Lucas sempre soube que Zahid também errava e não negava. Também sofria e chorava. Em seu coração sabia que nunca guardaria mágoa alguma de Zahid. Lucas sabia que aquela era a sua jornada, suas dores e feridas, como a de qualquer outro.

O jovem pensava tanto que até mesmo o sinal ele deixou passar. Precisou que Gabriel corresse em sua direção, dizendo: A Estrela Bailarina! Veja Lucas! Nós estamos no caminho certo. Zahid diz que esta Estrela sempre leva a bons caminhos! Abençoado seja – exaltou. – Agora levante daí e ajude a arrumar a barraca! – continuou jogando um pouco de areia no amigo, de brincadeira. - Uma coisa eu tenho certeza que nem o sábio dos sábios poderá ajuda-lo: a parar de perder em seus sonhos e esquecer-se, por um instante, de tudo ao seu redor.

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